Isabel Gardenal
"Se fosse no ano passado, o Rubem Alves estaria sentado aqui. No domingo, ele nos deixou e, se pudesse falar agora, diria: - as pessoas não morrem; ficam encantadas. Ele ficou encantado", afirmou Carlos Rodrigues Brandão, cientista político e ex-professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, durante homenagem ao professor emérito desta Universidade Rubem Alves que, além de escritor e poeta, era considerado por muitos "o orador das multidões". O homenageado faleceu no último dia 20 deste mês em virtude de complicações de um quadro de pneumonia.
A fala de Brandão ocorreu no contexto de uma roda de conversa realizada no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp (GMU) no 19º Congresso de Leitura do Brasil (Cole) com os professores Regis de Morais, Margareth Park, Eliana (Lica), Tarcísio Bregalda e Severino Antônio, atividade que no momento foi designada sarau poético. Essa roda tinha a ver também com o lançamento de Amigos da Poesia, pela Adonis, com as obras intituladas Constelações: Uma Escuta Poética da Infância (Severino Antônio), Enigmas de um Rosto Insone (Regis de Morais), Memoriando: entre Cacos e Poetices (Margareth Brandini Park), Naveganças em três linhas (Tarcísio Bragalda) e Saracura e Seriema, Saíra e Sabiá (Carlos Rodrigues Brandão), que compõem a série que procura reunir a publicação de poetas contemporâneos em uma melodia advinda de uma sensível junção de palavras, a poesia.
O público estava visivelmente emocionado, e o silêncio foi rompido com a música de João Arruda. Brandão contou que Rubem Alves foi cremado por um desejo seu e que as suas cinzas ficarão guardadas até o outono, quando serão aspergidas pela família sobre ipês amarelos da Fazenda Santa Elisa, pertencente ao Instituto Agronômico de Campinas.
Um a um dos amigos poetas lembrou a beleza do talento de Rubem Alves. Lica fez a interpretação do livroCantos do Pássaro Encantado, Margareth Park leu um haicai e o poema mineirinho "Prato de doce" (de sua autoria), Tarcísio falou de encantamento e Severino Antonio comentou o quanto ficou impressionado com os olhos anelantes de Rubem Alves (ao encontrá-lo na Faculdade de Educação da Unicamp) e das memórias que retornaram com sua morte. "Os seus trabalhos falam de lacunas e de eternidade. Têm muitos fios que vão se entretecendo, têm muitos fios e muitas histórias. Nesse momento é importante o silêncio. Em homenagem ao Rubem Alves, que vivia de palavras, invoco o silêncio".
O público estava visivelmente emocionado, e o silêncio foi rompido com a música de João Arruda. Brandão contou que Rubem Alves foi cremado por um desejo seu e que as suas cinzas ficarão guardadas até o outono, quando serão aspergidas pela família sobre ipês amarelos da Fazenda Santa Elisa, pertencente ao Instituto Agronômico de Campinas.
Um a um dos amigos poetas lembrou a beleza do talento de Rubem Alves. Lica fez a interpretação do livroCantos do Pássaro Encantado, Margareth Park leu um haicai e o poema mineirinho "Prato de doce" (de sua autoria), Tarcísio falou de encantamento e Severino Antonio comentou o quanto ficou impressionado com os olhos anelantes de Rubem Alves (ao encontrá-lo na Faculdade de Educação da Unicamp) e das memórias que retornaram com sua morte. "Os seus trabalhos falam de lacunas e de eternidade. Têm muitos fios que vão se entretecendo, têm muitos fios e muitas histórias. Nesse momento é importante o silêncio. Em homenagem ao Rubem Alves, que vivia de palavras, invoco o silêncio".
Convergência
O filósofo da educação e poeta Regis de Morais conta que Rubem Alves, então com 26 anos, foi seu professor no Instituto Presbiteriano Gammon. Regis tinha 18 anos. Já na época gostava muito de escrever mas tinha inibição de mostrá-los para alguém mais balizado. “Mostrei minhas poesias justamente para Rubem Alves, que me disse que os versos não estavam perfeito mas que via um poeta presente em cada poema”, relembra. “Foi o primeiro estímulo que recebi.”
Depois Regis se tornou músico, desistiu; foi para a filosofia e para as ciências sociais. Contudo, foi somente a sua poética que lhe rendeu um verbete. Segundo ele, seus alunos, ouvindo tais poemas, resolveram publicá-los. Em seu relato, descreve: "Selecionei, relutante, 38 deles e pedi-lhes que os submetessem à poetisa Ruth Guimarães, que atuava na mesma faculdade em que eu lecionava. Depois disso, ela me encontrou no corredor e revelou que passou o final de semana lendo-os e que gostou muito. Ela fez o prefácio do livro e solicitou que o enviasse a Carlos Drummond Andrade. Feito isso, recebi dias depois uma correspondência elogiosa à minha produção, que terminava com um abraço de amizade e de louvação. O fato é que o livro foi parar nas mãos de Tristão de Atayde e difundiu-se rapidamente, inclusive na imprensa. Acabei acreditando que o meu trabalho tinha qualidade. Agradeço ao Rubem Alves. Ele deixa saudade. Até há pouco tempo, estávamos velhinhos: eu com 74 anos e ele com 81.
Regis de Morais recitou para o amigo o poema "Homenagem", de Antero de Quental, poeta português:
“Se há nesta vida um Deus para os acasos,
Que pela humanidade o bem reparte
Que te dê da fortuna a melhor parte
Que venturas te dê, sem lei nem prazos.
Eu, de alegrias tenho os olhos rasos
de lágrimas, querida, ao vir brindar-te
Quando vejo que até para saudar-te,
As flores se debruçam sobre os vasos.
O meu brinde é sumário, curto e breve
Se o nome que se quer, quando se escreve
Move-se a pena com traços ideais.
Um anjo como tu, quando se brinda
Tem-se a missão cumprida e a festa finda
Quebra-se a taça e não se bebe mais.”
Que pela humanidade o bem reparte
Que te dê da fortuna a melhor parte
Que venturas te dê, sem lei nem prazos.
Eu, de alegrias tenho os olhos rasos
de lágrimas, querida, ao vir brindar-te
Quando vejo que até para saudar-te,
As flores se debruçam sobre os vasos.
O meu brinde é sumário, curto e breve
Se o nome que se quer, quando se escreve
Move-se a pena com traços ideais.
Um anjo como tu, quando se brinda
Tem-se a missão cumprida e a festa finda
Quebra-se a taça e não se bebe mais.”
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