14/06/2004 - 18:00
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15 de junho de 2004 - Deus inventou a Igreja e, o diabo, o clero. Com estas palavras, o editor Valter Castelli introduziu hoje, no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, alguns dados biográficos sobre o teólogo Leonardo Boff. Este, em particular, foi uma herança deixada pelo pai do ex-jesuíta. Segundo Castelli, talvez esta mentalidade tenha influenciado Boff a tomar uma decisão muito radical, na época: abandonar a Igreja Católica e formar um grande movimento a Teologia da Libertação (uma linha progressista da Igreja Católica), fenômeno mundial que conta com mais de 100 mil comunidades de base e perto de um milhão de unidades menores.
O teólogo esteve na Unicamp para um debate sobre espiritualidade com o educador Rubem Alves, professor aposentado da Universidade, e o jornalista Luiz Carlos Lisboa, todos escritores. Eles também vieram para lançar seus livros Novas Fronteiras da Igreja, de Leonardo Boff; Se eu pudesse viver minha vida novamente... , de Rubem Alves; e O som do silêncio, de Luiz Carlos Lisboa. Uma segunda edição deste evento acontecerá hoje, às 19 horas, na loja Fnac, do Parque Dom Pedro Shopping. A entrada é franca. Boff confessou que manteve uma briga "intestina" com a Igreja e chegou a sentir ódio de uma autoridade eclesiástica. "Fui buscar refúgio na natureza para conseguir me libertar deste sentimento. Nutri muita tristeza, mas não sofri amargura, pois esta corrói como um câncer", descreve.
Em seu livro Novas Fronteiras da Igreja, a tese de base da obra parte da abordagem de que a Igreja é fruto de uma decisão histórica do século 3 d.C. "E carrega ainda a mesma função política de apaziguar, porém deixa de evangelizar os pobres, deixando-os às margens da sociedade", explica. Boff conta que hoje vive outro momento histórico. A Igreja que acredita é aquela que vive em mobilização e libertação. "Tentamos reinventar a Igreja." O teólogo acredita na força do novo cristianismo, o qual tem muita chance de acompanhar sua época planetária. "Que a nossa chama interior não seja boa somente para nós", conclui.
Em seu livro Novas Fronteiras da Igreja, a tese de base da obra parte da abordagem de que a Igreja é fruto de uma decisão histórica do século 3 d.C. "E carrega ainda a mesma função política de apaziguar, porém deixa de evangelizar os pobres, deixando-os às margens da sociedade", explica. Boff conta que hoje vive outro momento histórico. A Igreja que acredita é aquela que vive em mobilização e libertação. "Tentamos reinventar a Igreja." O teólogo acredita na força do novo cristianismo, o qual tem muita chance de acompanhar sua época planetária. "Que a nossa chama interior não seja boa somente para nós", conclui.
Convenções - Rubem Alves, hoje vivendo mais a escrita e a poesia, revela que sua experiência religiosa foi suficiente para que fugisse ao dogmatismo. "A universidade age consoante à religião. Os 'deuses' são travestis, que mudam de roupas a cada passo. Na cátedra, somos obrigados a seguir à risca os princípios científicos e sua linguagem, além de incorporar uma rigidez de atitudes extrema", exemplifica. Ele comenta que comecou a ser escritor depois que saiu da universidade e que deu asas aos seus impulsos. "Fiz isso e me sinto feliz. Não quero consertar nada mais em minha vida, nem os erros. Mas não vendo fórmulas prontas. Só cheguei a este ponto, pois tudo ocorreu de modo contrário ao que planejei", revela.
Curiosamente, quando Rubem Alves se encaminhava para o debate na Unicamp, ele se perdeu no campus. O fato não teria ocorrido em anos anteriores como professor da Universidade, local por onde andava com desenvoltura. Este foi um de seus comentários assumindo a nova fase de escritor e poeta. O Som do Silêncio, esclarece Lisboa, reúne pensamentos e artigos publicados no Jornal O Estado de São Paulo, ao longo de 30 anos como colaborador do veículo. Nele, o escritor responde a uma questão instigante: "observar é fundamental, mas não se deve perder de foco quem é o observador", adverte. "É uma volta sobre si mesmo".
Sinopse O som do silêncio, de Lisboa, permite ao leitor realizar viagens em busca do eu interior. O autor propõe meditações em pequenos textos com temas variados, geralmente inspirados na natureza e em tudo o que rodeia o ser humano o som, a lua, o sol, a presença do ausente, o amor, as emoções, a capacidade de sentir, a solidão e o estar só. O livro propõe uma interpretação diferente a cada momento, a cada leitura. Em Se eu pudesse viver minha vida novamente..., Rubem Alves viaja no tempo e no espaço e lança o olhar sobre os sonhos, as perdas e ganhos, detendo-se em pequenos detalhes que fazem toda a diferença, "recorrendo a memórias, ora felizes, ora dolorosas, quase sempre com um toque de nostalgia, que não é arrependimento, mas sim uma saudade gostosa de algo vivido em plenitude".
Fundamentado nos conceitos conciliares (Vaticano II) de Igreja-Sociedade (que privilegia a hierarquia) e de Igreja-comunhão (que valoriza a participação leiga e o povo de Deus), Leonardo Boff propõe uma ponte eficaz entre essas duas vivências, segundo moldes amplamente expostos no livro Novas Fronteiras da Igreja, que já ocorrem na América Latina. Sob a proposição de que "é melhor que errem os teólogos do que os pastores. Há de se evitar as vanguardas teológicas que pretendem pensar em lugar do povo cristão", propõe as premissas da teologia libertadora, formulando, no concreto, "um novo modo de toda a Igreja ser" e anunciando, assim, as novas fronteiras da Igreja, o futuro de um povo a caminho.
(Isabel Gardenal)
Fotos digitais: Neldo Cantanti
(Isabel Gardenal)
Fotos digitais: Neldo Cantanti
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