sábado, 3 de septiembre de 2016

Jairo Marques, Biografia póstuma descreve sede por liberdade de Rubem Alves (2015)


Biografia póstuma descreve sede por liberdade de Rubem Alves


Passado um ano da morte do escritor Rubem Alves (1933-2014), seus admiradores podem ter uma oportunidade valiosa: experimentar a impressão de que estão conversando com o consagrado educador e colhendo dele um pouco mais de suas histórias, conceitos relativo à vida e detalhes de sua trajetória.
Em "É uma Pena não Viver - Uma Biografia de Rubem Alves" (editora Planeta), Gonçalo Junior, com vastos elementos de pesquisas, constrói o ambiente que acolheu a infância de Rubem, no interior mineiro, passando por sua formação intelectual, pela vida religiosa e por sua obsessão por liberdade.
Maria do Carmo/Folhapress
O escritor Rubem Alves em sua casa em Campinas, em retrato feito em 2005
O escritor Rubem Alves em sua casa em Campinas, em retrato feito em 2005
Ao longo de suas 477 páginas, a obra -autorizada pela família- entrelaça o trabalho de campo do autor, que fez 30 entrevistas e contou com documentos inéditos repassados pelo Instituto Rubem Alves, com interferências de trechos de crônicas e declarações de Rubem.
"Tive muita preocupação com os fragmentos de memórias usados. Não poderia criar um descompasso com a poética e com o modo de falar do Rubem", afirma o autor.
O espírito contestador do escritor é respeitado até na explicação de como ele ganhou paixão pela leitura, em trecho literal de sua fala.
"Não aprendi com a gramática. Dizem que os jovens não gostam de ler. Mas como poderiam amar a leitura não houvesse alguém que lesse para eles. Aprende-se o prazer da leitura da mesma forma que se aprende o prazer da música: ouvindo."
Do traumatizante bullying sofrido no colégio devido a seu sotaque carregado e pela condição de pobreza na infância, passando pela questionadora carreira de pastor da igreja Presbiteriana, pela perseguição e pavor vividos durante a ditadura militar até o mergulho no universo da educação e da humanização, o livro vai formando o "encantador de palavras".
"Cinco anos antes de morrer, Rubem fez um roteiro para um documentário sobre a sua vida, que acabou não sendo rodado. Tive acesso a esse documento e procurei seguir aquele caminho. Ele havia reprovado duas biografias anteriores, mas penso que ele iria concordar com a minha", diz Gonçalo Junior.
Parte densa da obra é dedicada a um período de intenso sofrimento para o professor -que fez carreira na Unicamp e foi um dos palestrantes sobre educação mais importantes do país-, o da ditadura (1964-1985).
Segundo o autor, "a fase foi muito importante, porque Rubem se viu acuado, censurado. Passou por dificuldades financeiras e teve de se exiliar nos EUA. Sofreu pressão tanto de militares como da própria igreja de que era pastor."
O escritor com sua veia mais engraçada, como defensor das diferenças e de valores humanos, tal qual conheceram mais de perto leitores desta Folha, onde Rubem foi colunista por três períodos, a partir da década de 1980, aparece com mais força a partir do capítulo nove.
Em "Histórias para Raquel Dormir", uma referência aos contos infantis criados pelo filósofo para a filha, Rubem começa a surgir com mais lirismo e com mais momentos emotivos. Mesmo assim, seguem na caracterização os ideais de liberdade e a crítica do "não viver" plenamente.
"O livro se chama 'É uma Pena não Viver' porque, para Rubem, não bastava existir, era preciso aproveitar tudo o que a vida proporcionava de maneira intensa. Ele foi subversivo até o fim", diz Gonçalo.

É UMA PENA NÃO VIVER
AUTOR Gonçalo Junior
EDITORA Planeta

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